segunda-feira, 18 de junho de 2012

«O que é que tem o Moutinho de especial?»


Um amigo meu dizia ontem que não percebia porque razão tantos comentadores e especialistas de futebol comentavam o valor de João Moutinho.

E o seu argumento é o mesmo que já ouvi da boca de muita gente... Aliás, que venho a ouvir há muito tempo de muita gente...  «O que é que o João Moutinho faz de especial? Nunca vi nada de especial...»

Pois, achei interessante esta questão porque permite debatermos o que é a essência do futebol.
Um jogador que não dá nas vistas não é um bom jogador?

Será que o futebol se tornou uma modalidade de habilidades? Então não será de mudar as regras e definir que se dá «nota artística» e as vitórias  passam a ser individuais...

Se o futebol é um desporto coletivo e se as vitórias se obtêm com golos, então o mérito tem de ser coletivo.

Mas, claro, vivemos na época o espetáculo...  o que interessa mesmo é discutir as vedetas, as estrelas...

Na verdade, ninguém o pode negar, o futebol é um desporto coletivo, e está mais que provado que não é a soma de grandes jogadores que faz uma grande equipa.

Há, aliás, vários exemplos recentes. Já existiram várias equipas recheadas de galáticos e que não ganhavam jogos...

Está provado. Não há como justificar o contrário. Uma equipa é uma equipa, é um grupo que joga solidário, que tem rotinas, que tem partilha, que tem espírito de sacrifício, que tem entreajuda, que tem sentido coletivo. O meu colega falha, eu vou dar o litro para recuperar o erro...  isto é uma equipa.


Então, voltemos à questão inicial. O João Moutinho não faz nada de especial?

Pois, é verdade. Ninguém vê o João Moutinho a arriscar uma finta vistosa, ninguém vê o Moutinho procurar uma jogada individual, a fugir com a bola, ninguém alguma vez viu o Moutinho tentar fazer um bonito quando tem um colega para passar...

É verdade. O João Moutinho não é jogador de dar nas vistas. Nunca foi! Nunca será, penso eu!
João Moutinho é dos melhores exemplos do jogador que sacrifica o seu individualismo em prol do coletivo. Anula-se para exacerbar o grupo.

E é isso que faz do Moutinho um mau jogador?

Não, eu acho que é isso que faz do Moutinho um grande jogador.

Quando Portugal ganha à Holanda poucos se lembrarão do papel de Moutinho, da pressão que colocou no adversário, nas bolas que obrigou o adversário a falhar, porque esteve sempre em cima deles, a colocar pressão, a atrapalhar, a tentar tirar a bola...

Há quem me diga que o Raul Meireles é mais jogador... intervem mais no jogo. Não concordo mesmo nada.
O Meireles não corre metade dos kms do Moutinho. É um jogador mais posicional, o Moutinho corre o campo todo. É disciplinadíssimo taticamente, compensa as falhas dos colegas, ajuda a defender, ajuda a atacar, ele está sempre no local onde tem de estar alguém...

O Moutinho é o jogador que qualquer treinador quer ter. A formiguinha que trabalha, trabalha, trabalha...

O tele-espectador se calhar não se apercebe... porque não vê grandes fintas, grandes remates, grandes individualismos. Pois não. Mas contem quantas recuperações de bola, contem quantos passes bem feitos.


Eu sou um fã dos «Moutinhos» do futebol, e sei que sou uma minoria.

Sei que 95%  dos adeptos do futebol deliram com as fintinhas do Nani, os golos do Ronaldo, as entradas à linha do Coentrão...

Eu também gosto de ver esses jogadores. Mas não deliro ao ponto de não perceber que esses jogadores só brilham se na equipa lá estiverem alguns Moutinhos e Pepes... jogadores que dão o litro do primeiro ao último minuto do jogo...

Achei curioso os comentários dos comentadores das televisões após o jogo com a Dinamarca em que o Ronaldo teve um jogo menos conseguido.

Diziam que não se podia esperar tudo do Ronaldo... que não podia estar a ajudar a defender e depois querermos que também ataque... se queremos que ataque, se calhar temos de permitir que não defenda...


Que argumento mais ridículo!

Desde quando?

O sucesso de uma equipa está dependente de uma estrela que fica à mama à espera da bola?

Que ridículo!

Aliás, no jogo com a Holanda provou-se.

A solução não era que o Ronaldo ficasse à mama. pelo contrário. O Sucesso estava numa equipa com espírito de sacrifício, em que todos atacam e todos defendem.

O segredo da vitória de Portugal está nos Moutinhos, Velosos e outros que não deixaram a Holanda jogar!

Se há coisa que não gosto mesmo nada no jornalismo desportivo é essa vertigem para o hiperbolizar das personagens.  Como se existissem super-heróis que sozinhos resolvessem jogos.

Não é verdade! Mesmo que por vezes grandes jogadores façam coisas incríveis, as equipas só ganham porque depois há outros jogadores que defendem muito bem e não deixam o adversário marcar! Porque muitos outros preenchem espaços, porque obrigam o adversário a preocupar-se com outros jogadores.


Sempre detestei aquela coisa muito comum que se vê nas tv's. Acaba o jogo e diz um comentador para o outro: «Quem achas que foi a figura do jogo?»

Invariavelmente a resposta é sempre a mesma: «O Jogador y, que marcou o golo decisivo»...

Não há coisa mais injusta. Pode haver «n» jogadores a fazerem uma partida fabulosa, e um avançado que está «fora» do jogo a partida quase toda. Chega ao fim e a bola sobra para os seus pés, só tem de encostar e faz o golo que decide o resultado: E é este o jogador da partida??? eheheh....  Eu acho que não!

Por exemplo, neste último jogo com a Holanda, 99,9% das pessoas dizem que é o jogo do Ronaldo.

Eu também acho que o Ronaldo foi fabuloso.

Mas e o Pepe?
Não viram o que fez o Pepe??? Cortes absolutamente fabulosos... fez um jogo de gigante! Impressionante...


O sucesso do Barcelona e desta equipa espanhola é a inversão dos valores comuns do futebol.

Nestas duas equipas elegeu-se o coletivo como prioridade. O Sucesso é de todos.  Não é deste ou daquele jogador...

A equipa torna-se impossível de bater porque é uma equipa. É um conjunto unido!

Viva o futebol de equipa!









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